Nem Natal salva o comércio da crise
Para as festas de fim de ano, até Papai Noel está com dificuldade para conseguir trabalho. Nas ruas, consumidores atestam previsões ruins feitas pelo comércio.
Silvio Ribeiro trabalha como Papai Noel em festas de fim de ano há 48 anos. Mais que isso: ele mantém uma equipe de 15 “bons velhinhos”, que trabalham em shoppings, empresas, eventos e residências. Mesmo com uma inflação de mais de 9% prevista para 2015, ele decidiu não reajustar o preço do serviço, inalterado há dois anos. Para ter um Papai Noel com barba postiça, o preço é 650 reais. Com barba de verdade, o valor passa a 850 reais. Em outras épocas, as reservas já estariam aquecidas nessa época do ano, a pouco mais de dois meses do Natal. Neste 2015 de retração econômica, no entanto, até Papai Noel é termômetro do aperto financeiro da clientela. “Ainda não recebemos nenhum pedido”, diz Ribeiro. “Nossa esperança está no recebimento do 13º salário.”
Na última década, o comércio elegeu, a cada fim de ano, um produto-símbolo da fase de bonança do consumo no país. Os varejistas brasileiros já celebraram o Natal da TV de plasma, o do notebook e o dos smartphones, para citar três campeões de vendas. Em 2015, se houver algum campeão para eleger como símbolo, já será uma vitória. Praticamente todos os setores do varejo preveem para este ano seu pior Natal em muito tempo. O depoimento do Papai Noel Silvio Ribeiro ou o repentino aparecimento de panetones, tradicional produto de fim de ano, nas prateleiras de supermercados em pleno mês de setembro atestam o que economistas e empresários já anteveem: em 2015, nem o Natal salva os resultados do comércio.
Inflação, dólar e desemprego em alta estão entre os fatores que se somam para que as projeções de um Natal mais magro. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) fala em impacto direto em todos os segmentos do varejo, que incluem lojas de rua, shoppings e o comércio eletrônico. Para o varejo físico, a entidade projeta vendas 4,1% menores que as de 2014, o que deve marcar a primeira retração desde 2004.
Quando os empresários afirmam que nem o Natal livrará 2015 de ser um ano ruim para as vendas, não se trata de pessimismo cego. Em todas as outras datas usadas como trampolim pelo comércio, os números deste ano foram decepcionantes. Segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), em 2015, as vendas caíram no Dia das Crianças (-8,95%), Dia dos Namorados (-7,82%), Páscoa (-4,93%), Dia das Mães (-0,59%) e dos Pais (-11,21%).
Esse cenário deverá frear a demanda por trabalhadores temporários em 2015. No fim deste ano, nove em cada dez empresários (88%) disseram que não contrataram nem pretendem contratar funcionários para reforçar o efetivo, segundo levantamento do SPC e da CNDL. Além disso, apenas 27% dos empresários consultados disseram que pretendem investir no Natal – os que disseram que não o farão somam 71%. De acordo com a CNC, pela primeira vez desde 2009 a estimativa aponta para uma retração de 2,3% no número de vagas em relação ao ano anterior, para 139,6 mil posições. A entidade estima que o salário médio de admissão poderá chegar a 1.442 reais.
A regra geral será a do corte de gastos por parte dos consumidores, e queda nas vendas e nas contratações do lado do varejo.
Até o próximo!
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