Muamba enxuta

Há tempos que o turismo de compras faz parte da rotina da parcela mais abastada da classe média brasileira, estimulado por nosso Real valorizado. Os destinos favoritos são tradicionais centros turísticos e de negócios dos Estados Unidos, principalmente Miami, Orlando e Nova Iorque , cidades com farta oferta de voos e passagens a preços competitivos.
É fácil entender a febre consumista. Impostos altos por aqui, escala de consumo maior lá fora, incapacidade da indústria brasileira em alcançar padrões internacionais de qualidade e limitações no contingente da Receita Federal para impor uma fiscalização eficiente fazem das compras uma escolha quase que obrigatória.
Entretanto, quem se habituou a voltar de malas abarrotadas tem trazido cada vez menos mercadorias do exterior. Comprar nos EUA já foi mais fácil e vantajoso do que é hoje. Há cinco anos atrás, os outlets, principais destinos de compras de brasileiros, habitualmente ofereciam descontos de mais de 70% ou 80% em relação aos preços normais praticados nos shopping centers de lá. É fácil entender tamanho desconto. Na temporada, os produtos chegavam aos shoppings com preço cheio. Os norte-americanos, ávidos consumistas, adquiriam maciçamente as novas coleções, infestando as ruas com as cores e estampas da moda. Quando mais nenhum nativo queria aquela moda, as sobras iam para os outlets para satisfazer os turistas, que adquiriam a “última moda” a preços módicos. Por sua vez, as sobras dos outlets iam para as lojas de pontas de estoque, onde as pechinchas eram maiores ainda.
A crise de 2008 trouxe uma profunda transformação nesse modelo consumista. Com o aumento do desemprego e queda da renda, os americanos diminuíram seu consumo nos shoppings. As sobras de coleções destinadas aos outlets cresceram em volume, ao mesmo tempo em que os lucros das diversas marcas de roupas caíram.
Como consequência, os outlets continuam atraindo turistas, mas as promoções raramente trazem descontos maiores do que 30% ou 40%. Além disso, os consumidores locais também passaram a consumir nos outlets, quem viajou recentemente percebeu isso nos estacionamentos superlotados. Pela lei da oferta e da procura, onde há maior consumo, há maior preço.
Comprar lá ainda é muito mais barato do que cá. Mas, não é mais um ótimo negócio, quando se leva em consideração a elevação dos preços das passagens e dos hotéis, causados principalmente pelo denso fluxo de brasileiros nesses destinos. Os supermercados de lá são bem mais baratos do que os daqui, mas não é sensato viajar milhares de quilômetros para fazer mercado. Os eletrônicos continuam uma pechincha, mas é neles que a Receita Federal foca seu pente fino.
Há de se ponderar se algumas centenas de reais economizadas em roupas e eletrônicos justificam deixar as atrações culturais de lado em troca de um banho de shopping. Talvez as viagens dos brasileiros já estejam trazendo na bagagem um pouco mais de cultura e menos muamba.
FONTE: www.maisdinheiro.com.br
Até o próximo!