O dia em que o relógio quase parou

Na busca desenfreada por dinheiro, muitas pessoas vivem pressionadas, correndo contra o tempo. Como você lida com o tempo? Para refletir um pouco sobre o assunto, leia a história escrita por Arethuza Helena Zero, presente no livro “Um mundo de Histórias: textos para começar filosofar”. Será que você é escravo do relógio? Confira:
Andava distraidamente, observando as pessoas que, naquela correria, trombavam nas estreitas calçadas. Era um verdadeiro “vai e vem”. Pensei: a rapidez com que as pessoas andam só pode impedir que elas se olhem, se conheçam. Parece que a única preocupação delas é a de chegar no lugar desejado, ocupando o menor tempo possível, como se tivessem que andar ou talvez correr contra o tempo.
Mesmo perdida naquela confusão, tentei pensar em algo. Será que poderia descobrir uma forma daquelas pessoas mudarem de comportamento? Por que elas correm tanto? Por que o tempo influencia tanto a nossa vida? Quem era o responsável por toda aquela agitação? Para mim, era o tempo. O tempo é culpado por toda esta correria. Se ele não existisse, as pessoas não esbarrariam umas nas outras, naquelas calçadas estreitas. Elas poderiam olhar umas para as outras, ao invés de olharem apenas para os seus relógios.
Mas, como poderia fazer o tempo não existir, se eu nem ao menos sabia quem e como ele era? Na minha cabeça persistia uma única ideia, a de parar o tempo. Mas, como fazer isso? Como parar os movimentos do relógio, se é ele quem controla os movimentos dos seres humanos?
Observando o meu relógio, percebi que os ponteiros se movimentavam em um ritmo sincrônico, mecânico, assim como aquelas pessoas que caminhavam. É como se elas estivessem dominadas pelo relógio.
Quando esse pensamento se concretizou em minha cabeça, assustei-me e despertei. Era o meu relógio que me despertava de um sonho, me avisando que já estava na hora de acordar.
Arethuza Helena Zero
FONTE:
“O dia em que o relógio quase parou”, in: Oliveira, Paula de Ramos. Um mundo de histórias (Textos para começar filosofar). Petrópolis: RJ, Editora Vozes, 2004.